Essa abertura de espirito tambem me permitiu desenvolver alguma capacidade de tolerância, evitando assim alguns pre-conceitos, assim como qualquer ponto de sentimento de racismo, sentimento primario e que tem sobretudo as suas origens na ignorância.
Esta maneira de ser e de ver as coisas, se a aplicar ao mundo da produção do vinho, encontro bastantes diferenças entre o que se passa em França e em Portugal, principalmente no perfil dos produtores e nos seus metodos.
Quais essas diferenças?
Na questão do perfil, em Portugal parece-me que em muitos casos encontramos produtores que na maior parte apenas são investidores. Pessoas com poder financeiro que por varias razões investem na produção de vinhos. Geralmente, estas pessoas não participam no processo de produção, não vinificam e muito menos trabalham a parte da viticultura. Contratam pessoal para fazer o trabalho. Vêm sobretudo a parte do negocio. Claro que existem exepções, mas parece-me ser este o modelo dominante em Portugal.
Em França tambem existe esse modelo, mas acho que esta tambem muito presente o modelo do "vigneron".
O vigneron, consoante o tamanho da sua produção tem ou não empregados, não é nesta questão que se encontra a diferença. O vigneron tem paixão e conhecimento profundo do seu vinho, dos seus solos, do seu terroir e dos seus metodos culturais. O vigneron poda, o vigneron trata a sua vinha com amor, trabalha nela, praticamente conhece cada cêpa da sua quinta. O vigneron na adega "suja as mãos", vinifica, tem atenção quase obseviva por cada pormenor, procura em cada um desses pormenor algo que levara o seu vinho a excelencia.
O vigneron procura preservar a sua terra, não vai pela facilidade e pela dependencia dos tratamentos quimicos, vai por um profundo conhecimento de praticas culturais respeitadoras do meio ambiente, dos seus seres, da sua fauna microbiologica, enfim do seu terroir. Acredita que procedendo assim atingira uma expressão autentica e pura do mesmo nos seus vinhos.
O vigneron não liga a adega modernaças, quase ostentatorias, onde a imagem vale mais do que a funcionalidade. O vigneron vai ao essencial.
Em Portugal para se ter autorização de produzir e comercializar vinho, tem de se ter uma adega com "licença industrial". Esta imposição leva obviamente a uma selecção do perfil dos produtores. Sem uma forte capacidade financeira, não se tem a tal adega industrial.
Quem ja visitou alguns produtores emblematicos de algumas regiões francesas e não so, pode constatar condições simples, humildes, pode constatar metodos artesanais, mas cheios de sabedoria, menos produtivos, que dão mais trabalho, mas tambem mais eficientes e eficazes na procura da excelencia.
Um desses metodos é o do trabalho por gravidade.
O vinho é movido pela força de Newton, pela gravidade.
Muitos, eu incluido, acreditam que isso permite preservar o vinho, acreditam que a utilização de bombas, para as diferentes tranfegas, parte o vinho, leva a perder algumas das suas caracteristicas.
Obviamente, a gravidade genera muito mais trabalho, muito mais tempo em cada operação. Em termos de produtividade não se compara a bomba. Pude constata-lo e senti-lo no corpo, pois apliquei essa filosofia na vinificação das minhas experiências.
No seguinte video, deixo o exemplo de um dos produtores mais famosos da Borgonha, COCHE-DURY.
Vinhos miticos produzidos em adega "arquaica" segundo as normas do IVV português e segundo metodos artesanais.
Como podem constatar neste video, este produtor leva o metodo da gravidade até ao engarrafamento.
E quer perceber de francês, podera sentir a profunda sabedoria nas suas sabias palavras.
PS: os mais observadores poderam reparar que até o trajo do produtor é simples, nada de sinais exteriores de riqueza, nada de fatos, gravatas ou oculos de sol ;)
Eu acho que a França, sendo( ainda é...) o pináculo do mundo vínico, tem de fazer vinhos sempre diferentes. Só assim se percebe que o "Vigneron" subsista e até cresça, em França. Aliás, uma entrevista ao Dirk Niepoort, na Fugas há uns tempos, ele referia isso mesmo. Pessoalmente, como o meu palato(vide, carteira...) não me permite discursar acerca da qualidade da maioria dos rótulos franceses, com a rara excepção de um qualquer "extraterrestre" que surja no comércio, tipo Lidl, não lhe sei dizer se o conceito é melhor ou pior na sua execução, mas gosto de pensar que algo que é feito com outros cuidados e extremos carinho, resulte no minimo, em algo diferente.
ResponderEliminarPela minha parte, considero que existem alguns "vignerons" em Portugal, muitos mais os desconhecidos que os conhecidos, mas assim de repente, o Mário Sérgio da Quinta das Bágeiras e alguns produtores(pequenos...) das Beiras, Bairrada e Dão, podem encaixar-se nessa denominação. E até certo ponto, o Dirk Niepoort também. Ele, pelo menos, é um acérrimo defensor de praticas ancestrais e no saber empírico dos mais velhos.
Forte abraço
Sim, felizmente, em Portugal tambem existem "vignerons" e concordo quando diz que o Mario Sérgio encaixa nesse perfil.
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