sábado, 20 de dezembro de 2014

As castas brancas nas vinhas velhas do Dão Serrano

O post de hoje serve para partilhar convosco o resultado do trabalho de cadastro das vinhas velhas que cultivo no Dão, no sopé da Serra da Estrela.
E interessante perceber a composição das vinhas em termos de castas, pessoalmente retiro ensinamentos.

Focamos hoje nas castas brancas.
Brancas que andam nas vinhas misturadas com as castas tintas.

De ha dois anos para ca tenho as vindimado a parte, vamos por isso poder provar o resultado nos vinhos brancos de 2013 e 2014.

Então, segundo o cadastro viticola tenho la estas castas brancas:


O primeiro ensinamento é que o field blend é dominado por duas castas brancas, a Siria e a Fernão Pires. Juntas constituem 60% das cêpas brancas presentes nestas vinhas velhas do Dão Serrano.

Siria
A Siria é a casta mais presente, cerca de 35% do encepamento branco.

Trata-se de uma casta muito antiga na região, como testemunha esta cêpa centenaria.

No Dão tambem é conhecida pelo nome de Alvadurão.

Esta casta esta presente de norte a sul do pais, sempre no interior. No Alentejo é conhecida por Roupeiro, no Douro por Codega. E na Beira Interior que se tem ouvido mais falar dela nos ultimos anos. 

A Siria, tal como algumas outras tintas, é uma casta que se encontra dos dois lados da Serra da Estrela, quer na Beira Interior, quer nas vinhas velhas do Dão Serrano. 








Fernão Pires

A seguir a Siria, vem a Fernão Pires. 

Casta bastante conhecida no litoral, em particular na Bairrada, tambem sob o nome de Maria Gomes. 

A Fernão Pires era uma das castas preferidas dos pequenos lavradores do Dão Serrano, como testemunham estes 25% do encepamento branco.

Cada vez que falei com os velhotes da aldeia sobre castas brancas, a Fernão Pires era sempre mencionada com carinho.

E uma casta que amadurece bem e que traz bastante sabor ao mosto.









Borrado das Moscas

Em terceira posição aparece a Bical com 14%.

A Bical tambem é das favoritas dos lavradores do Dão Serrano.

Localmente não é por este nome que a conhecem.
Utilizam sim o nome bem beirão de "Borrado das Moscas", nome que se refere as pequenas pintas castanhas presentes na pelicula dos bagos.

Pessoalmente é uma das minhas castas preferidas, pois gosto muito dos vinhos onde entra que provei quer no Dão, quer na Bairrada.

Com estas três castas, Siria, Fernão Pires e Bical obtemos 74% do lote.








Dona Branca
A seguir com os seus respeitaveis 8% aparece uma curiosidade, a Dona Branca.

Trata-se de uma casta que pessoalmente não conhecia.

Na net encontramos informação que indica de que se trata de uma casta vinda de de terras de nuestros hermanos.
Pois em Espanha em regiões fronteiriças com Portugal, nomeadamente na Galicia e em Castilla y Leon existe uma casta chamada Doña Blanca.

Uma casta ibérica, cuja presença no Dão talvez resulte de intercambios historicos, transfronteiriços. Afinal o vinho é mesmo isso resultado de movimentos de intercambio ao longo dos anos, dos séculos, entre regiões ou mesmo paises.









Arinto
Em quinta posição encontramos outra casta mais conhecida noutras regiões, sendo Bucelas o local onde atingiu mais fama. Estamos a falar do Arinto.

E se existe uma casta chamada Arinto do Dão, neste caso estamos mesmo a falar do Arinto de Bucelas.

Nas vinhas velhas que cultivo representa 5% do encepamento branco. 
Reconhece-se facilmente nas vinhas pelo seu cacho bastante apertado, de bagos pequenos, geralmente verdes, acastanhando na altura da maturação.

E uma casta que contrbui ao blend com a sua acidez natural elevada.






Para finalizar o field blend, encontramos 13% de castas diversas. 

Encruzado

Muitas castas diferentes, em quantidades residuais, apenas algumas cêpas.

Nestas "diversas" encontramos por exemplo o famoso Encruzado, aqui com apenas uma dezena de cêpas.

Uma casta que poderia ter desaparecido sem a aposta que tem vindo a ser feita na região ha duas décadas para ca.

Encontramos tambem de forma residual, a Malvasia-Fina ou a Rabo de Ovelha, entre outras.













E assim termina o texto de hoje. Nos proximos tempos publicarei um post similar, desta vez sobre as castas tintas presentes nestas vinhas.

Despeço-me com um voto de Feliz Natal para todos vos!

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