Depois de
alguma interrupção, retomo o relato da minha aventura por terras do Dão.
Voltamos por isso um pouco atras no tempo...
No inicio
de Agosto 2010, terminado o meu contrato com o meu anterior empregador, pude
enfim partir para Portugal de férias por 2 meses. Não sei se se
pode chamar a isto férias, porque levantava-me de manhã cedinho e
passava os dias a trabalhar, mas felizmente sempre com grande prazer.
Cheguei
então a Portugal
e comecei a trabalhar então nas vinhas do Alvaro Castro , na
companhia de umas senhoras de idade que la andavam a realizar os trabalhos de
monda, arrancar folha e cortar rebentos ladrões.
Foi instrutivo e divertido,
porque havia sempre boa disposição com as senhoras a cantarem canções tipicas
enquanto trabalhavamos.
Elas ficavam todas admiradas como eu tinha ali parado,
pois que é que deu a um engenheiro da cidade para ali andar a trabalhar no
campo? Ainda por cima com o calor que se sentia logo de manhã... Foram momentos
de familiarização com as vinhas, os solos, as castas, momentos que apesar de
trabalhosos, disfrutei plenamente.
Apenas la ia de manhã, das 8h até as 13h. A tarde aproveitava para me
dedicar mais ao meu projecto, pois ainda tinha muito para resolver a começar
pelo local. Corri varios produtores da zona, mas ninguem se mostrou disponivel
para me acolher na sua adega. Confesso que fiquei então um pouco desesperado a
ver as coisas a correr para tras...
Tive então
de encontrar uma solução.
O que apareceu foi a possibilidade de utilisar parte
da loja da casa do meu sogro. A loja é fresca, pois as paredes são de granito e
com para ai uns 30 ou 40 cm
de espessura, o que permite um bom isolamento termico.
A loja esta divida em 3
partes, ocupei uma dessas três, a que tinha azulejo no solo, o que permite
limpar com mais facilidade.
Não é o ideal mas pelo menos deu para desenrascar.
O meus sogros aceitaram, mas claro tem de ser uma solução provisoria.
O local não
foi feito para isso, é pequeno e não tem condições. Por exemplo não tem agua de
furo, so agua da rede. Ora aprendi com o Alvaro, que um dos vectores do TCA no
vinho é o cloro, elemento que se encontra na agua da rede por razões
sanitarias.
Isso quer dizer que para lavar as barricas ou os equipamentos tem
de se evitar a agua da rede e utilizar a agua de furo. Isto é problematico
porque para se fazer vinho é preciso muita higiene, ou seja muita agua... Na
altura da vinificação la me fui safando indo buscar agua ao furo da avo da
minha namorada, que ficava a uns 200m de casa. Não imaginam a quantidades de
garrafões que la fui encher e carregar...
Foi tambem
em Agosto que chegaram as barricas que tinha encomendado na DAMY em Meursault. Comprei
5 barricas usadas, três de 2008 e duas de 2007. A DAMY recupera
barricas usadas nos seus clientes e trata-as depois de maneira a vendê-las em segunda mão.
Desde o
inicio pensei utilizar barricas usadas em vez de novas. Alem de ser muito mais
economico, a minha ideia é de fazer testes, testar parcelas diferentes, sentir
as diferenças e as expressões de cada uma.
Para isso a
barrica usada parece-me mais adequada, pois não marca tanto o vinho como uma
nova, permitindo gozar dos pontos positivos da utilização da barrica
(micro-oxigenação lenta, polimento...), sem mascarar o terroir de origem.
Trabalhar
com barricas é muito mais complicado do que pensava, ja la irei num proximo post.
Nesta fase de
Agosto a principal dificuldade que tive foi com o transporte. Por razões de
facilidade confiei o transporte, de Meursault até casa do meu sogro em Santa Marinha (Seia),
a DAMY. As barricas chegaram la uma semana atrasadas em relação ao combinado.
Felizmente chegaram muito antes da data de utilização, mas essa foi complicada,
porque por vezes não se sabia onde andavam.
Retroactivamente soube que passaram
por uma rede de transportes com varios hubs no caminho. Passaram assim por
França, Barcelona, Madrid, Porto, Coimbra, Guarda e finalemente la chegaram.
Muitas horas perdidas a espera, muitos telefonemas e alguma preocupação...
Felizmente chegaram em muito bom estado.
Passei
tambem muito tempo a procura de equipamentos diversos, pois não tinha nada.
Parti do 0.
Caixas de vindimas, refractometro, garrafões para poder atestar as
barricas, vazilhas diversas, etc...
Aos poucos ia sempre aparecendo uma
necessidade, muitos km fiz para ir aos fornecedores locais de material de
viticultura...
Como não tinha nem lagar, nem cuba de fermentação comprei duas
dornas de 1000L em plastico alimentar. Depois ainda me emprestaram
mais duas, porque cheguei a ter 4 vinhos a fermentar ao mesmo tempo...
Para tudo o
que era recalques fui ter com o carpinteiro da aldeia, que me fez duas “mocas” em carvalho.
Agosto 2010, tambem foi uma fase de investigação, de procura de vinhas a experimentar, mas isso contarei no proximo episodio...
Belo, muito bom o teu post. Fazes-me inveja :)
ResponderEliminarUm abraço
Bem haja!
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