Agosto foi
tambem um mês em que corri a zona a ver as vinhas, a procura dos terroirs.
Estamos ali
no sopé da Serra da Estrela. Fiquei a conhecer bem melhor, em termos de vinhas,
aquela zona ente a Serra e Vila Nova de Tazém. Procurei perceber os diferentes
tipos de solos, as exposições, as encostas, a idade das vinhas e as castas, as
altitudes, as diferenças nos tempos de maturações...
Adorei
fazer isso, é do que mais gostei de fazer.
Corri muito caminho velho, peguei
muita terra nas mãos, aprendi a reconhecer algumas castas. As vezes ficava ali
sozinho a olhar para as vinhas velhas imaginando como era antigamente, imaginando
como os meus avos viveram.
Depois deste caminho velho chega-se a "Molhada", uma vinha de 80 anos que vinifiquei em 2010 |
Percebi que
certos sitios ja eram conhecidos, a muito tempo, pelas pessoas locais como
sitios de vinha. Falei com varios idosos, eles sabiam isso tudo, viveram-no.
Passei horas e horas a conversar com eles. Adorava isso e senti que eles tambem
ficavam contentes de contar isso e de ver um “jovem” interessar-se por isso.
Uma dessas
pessoas era o Ti João "Galracho", gosto muito de conversar com ele. Antigamente,
o Ti João tinha bois e na altura das vindimas não lhes faltavam trabalho, os
donos das quintas contratavam-no para levar a carga a adega cooperativa. Como
ele conta : “muita tina os meus bois levaram até a adega de Vila Nova”.
Sente-se saudade nas palavras deste homem.
Ti João na sua vinha |
Ti Zé "Rebelo" e a sua gente |
Outro "velhote" com
quem passava algumas tardes, era o Ti Zé "Rebelo", que “trata por tu” cada casta
e cada cêpa da sua vinha. Bastardo, Tinta de Mina, Jaen ou outras conhece-as
bem.
"E a empar, não ha pai para ele!"
Depois de podar, enquanto eu, pobre
citadino empo uma vara cheio de medo de a partir, ele empa quatro ou cinco, com
uma delicadeza e sabedoria que so a experiência de uma vida traz. Como dizem na
aldeia, “o Ti Zé Rebelo, a podar é um artista!”
Com estas
conversas e baladas pelas terras, entendi que muito ja tinha desaparecido. A
escala de produção hoje em dia na região ja nada tem a ver com o que foi no
passado. O vinho deu ali a viver a muita gente.
A quasi falência da adega coop. de Vila Nova de Tazém, ha uns anos atras, acabou com tudo ou quase.
Antiga adega coop. de VN de Tazem |
O vinho do Dão não vende e as uvas ou não são pagas ou são-no anos depois e a preço de chuva...
Claro que isso levou muito pequeno lavrador a abandonar a vinha, mantendo apenas pequenas parcelas para consumo de casa.
Hoje esta a ficar praticamente
tudo ao abandono. Encontram-se cada vez mais terrenos que mais parcem
cemiterios de vinhas.
A "vinha da Laje" deu, em tempo, a alguns o melhor vinho que ja beberam... |
... hoje esta vinha ja não passa de lembrança... |
Outro exemplo, a vinha "do Silvino", neste caso temos uma cêpa moribunda, depois de ja não ser podada ha 3 anos. |
Mais outra vinha morta, exemplos não faltam... |
Encontrei
muita parcela interessantissima, escutei o que me diziam os antigos, eles sabem
onde o vinho sempre foi melhor, onde sempre teve fama, onde o solo “rosso”
sempre deu para vinho, e fui la
ver.
Estou em
particular a lembrar-me de uma vinha centenar situada numa encosta
expectacular, cada vez que provo o vinho desse senhor, apesar dos defeitos de
vinificação e de conservação, acho espectacular.
Ha tambem
uma pequena vinha com quarenta e tal anos, so de Jaen, num alto com uma exposição
mais suave que gosta de experimentar. Naquele sitio, a maturação do Jaen é mais
longa, por acredito que pode dar resultado.
Vinha velha de Jaen, num alto com exposição solar suave |
Espero um
dia podê-lo fazer, mas nada é mais incerto...
António
ResponderEliminarGosto de ler os teus relatos, sente-se paixão em cada palavra.
Espero que este teu projecto tenha o sucesso que desejas e consigas ampliar as tuas ambições...
Entretanto cultivo a curiosidade de voltar a provar os teus vinhos.
Abraço
António Jorge Neves
Obrigado To-Jo!
ResponderEliminarE encorajador ler o vosso feed-back.
Em relação aos vinhos estou a tentar seguir em frente, mas os obstaculos são muitos.
Abraço