Um dos
objectivos deste projecto foi de melhor conhecer o Dão e as suas vinhas.
Vou tentar
caracterizar um pouco o modelo de vinhas que por là se encontram atravês de um
exemplo que me parece ser bem reprensentativo, o da vinha da Môlhada, a vinha
do meu sogro.
Quem ja
viajou por algumas regiões vitivinicolas, esta geralemente habituado a ver
grandes espaços de vinha seguidos, colinas, vales repletos de vinha, como por
exemplo podemos ver nas magnificas paisagens do Douro.
No Dão,
esse tipo de paisagem praticamente não existe, não se encomtram mares de
vinhas.
No Dão, vinhas e matas andam de mãos dadas |
Esta região
tem a caracteristica de ver as suas suas vinhas espalhadas, organizadas em
milhares de micro-parcelas, muitas vezes não ultrapassando o meio hectar. As
vinhas por vezes mal se vêm das estradas, tem de sir a procura delas pelos
caminhos velhos, escondidas muitas vezes atras de matas de pinheiros e
eucaliptos.
Policultura |
Ao
contrario de outras regiões vitivinicolas onde a monocultura é a regra, no Dão
reina a policultura, ao lado das vinhas encontramos outras variedades de
frutas, arvores, plantas e legumes.
Quem se interessa pela natureza, sabe que
isso é optimo para a biodiversidade e para a vida dos solos.
E no final, acredito
que isso tambem sirva o vinho.
A vinha da
“Môlhada” não foge a regra, é uma pequena vinha, com menos de meio hectar, cercada
por pinheiros, oliveiras, e diversas plantas selvagens ou cultivadas.
Trata-se de
uma vinha antiga, com cêpas velhas de 80 anos que vão sendo aos poucos
renovadas por re-enxertia, quando chegam, cansadas, a hora de entregar a alma.
O suporte
dos arames baseia-se em pilares de granito.
A vinha é suportada por arames atados a pilares de granito |
Poda em Guyot duplo |
Os arames estão baixos, não estão
por isso adaptados a podas do tipo Cordon de Royat, a tal poda “moderna”, mas
sim a poda tradicional na região, a poda em Guyot simples ou duplo.
A densidade
de plantação é alta, as entrelinhas curtas, pois antigamente não havia
tractores.
Entrelinha curta, não permitindo a passagem de tractor |
O trabalho
deste tipo de vinhas é por isso mais duro e custoso, pois as curras e os
trabalhos do solo são realizados manualmente, sem tractor. Mas tambem ha nisto
pontos positivos, pois sem passagens de tractor, o solo não se torna tão
compacto, o que facilita a drenagem da agua nos solos, assim como o seu
arejamento.
O solo é
granitico, arenoso, solo “rosso” como dizem os antigos.
Solo granitico, arenoso |
Neste caso
da Môlhada, o grão é fino e é engraçado porque isso tem se refletido na prova
do vinho que dali fiz em 2010, quando comparado, por exemplo, com o que fiz no
mesmo ano com as uvas da vinha do Ti João Galracho, onde a composição do solo é
similar mas com uma estrutura um pouco mais compacta.O vinho da Môlhada tem se
mostrado mais fino nos seus taninos, mais elegante, enquanto que o vinho da
vinha do Ti João tem se mostrado mais estruturado, mais potente de certa forma.
A finura do grão do solo é transmitida ao vinho |
A nivel de
castas, penso que esta vinha é bem representativa do que podemos encontrar na
sub-região da Serra da Estrela, onde o Jaen esta bem presente, misturado na
vinha com cêpas de varias castas tintas e brancas.
O Jaen reconhece-se facilmente pela sua folha cheia e redonda |
Nas tintas encontra-se muita
Baga, talvez casta tinta mais presente a seguir ao Jaen. A Baga é conhecida na
aldeia sobretudo por nomes como Carrega o Burro ou Santarem. Suponho que o nome
Carrega o Burro lhe vem da sua forte produtividade, mas Santarem não sei donde
vem. A seguir a Baga e Jaen, encontra-se muita coisa, algumas nem se sabe bem o
que é. Do que identifiquei com o meu sogro, posso mencionar o Bastardo, a Tinta
Pinheira, o Negro Mouro, a Tinta de Mina (casta tintureira de que falei num
anterior post) e algum Tourigo (como chamam localemente a Touriga Nacional).
A folha da Tinta Pinheira tambem se reconhece facilmente, muito marcada pelos multiplos dentes |
O Jaen é
uma casta tipica de que os locais gostam muito, muitas vezes a casta que
preferem, por a acharem muito saborosa.
Localmente,
os pequenos lavradores vindimam as suas vinhas velhas de uma so vez, colhendo o
Jaen ao mesmo tempo que as outras castas da vinha. O problema é que o Jaen é
uma casta precoce, amadurece mais cedo do que as outras castas e quando vão
vindimar em finais de setembro ou em outubro, o Jaen ja esta sobremaduro ou
mesmo em passa, muito doce e sem acidez. Sentia isso quando provava o vinho do
meu sogro dos anos anteriores, sentia doçura a mais, compotas. O mesmo fenomeno
se passava com as uvas brancas, pois aquando da vindima ia tudo misturado,
branco e tinto. E como o branco amadurece mais cedo que o tinto...
A boa frescura que apesar de tudo o vinho apresentava,
penso que se devia ao local, ao clima e solo, mas tambem as outras castas do
field blend, como a Baga, muito presente nestas vinhas.
Como não
gosto de vinhos enjoativos, tentei separar o Jaen do resto, vindimando-o mais
cedo, quando estava no ponto, permitindo-me assim conhecê-lo melhor e trabalhar
o resto a parte, obtendo assim dois vinhos equilibrados. Mas isso contarei num
proximo post.
Voltando as
castas da Môlhada, procurei perceber o nivel de presença do Jaen e das castas
brancas na vinha. O meu sogro deu-me uma ajuda e num fim de tarde de Agosto
2010, la fomos inventoriar as cêpas da Môlhada.
Ao todo 27%
das cêpas eram de Jaen, o que equivale a 35% das cêpas tintas.
As brancas
respresentavam 24% das cêpas.
Conclusão o
Jaen e as castas brancas representavam 51% das cêpas, o que certamente explica
a tal doçura...
E por agora
é tudo!
Espero ter
dado uma boa amostra do que são as vinhas dos lavradores no Dão, as vinhas de
minifundio.
Ha ja me
esquecia...
Quem um dia
passar pela Môlhada, alem destas cêpas e da natureza envolvente, podera tambem
encontrar uma palheira!
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