sábado, 21 de janeiro de 2012

Case study : a vinha da Môlhada


Um dos objectivos deste projecto foi de melhor conhecer o Dão e as suas vinhas.

Vou tentar caracterizar um pouco o modelo de vinhas que por là se encontram atravês de um exemplo que me parece ser bem reprensentativo, o da vinha da Môlhada, a vinha do meu sogro.

Quem ja viajou por algumas regiões vitivinicolas, esta geralemente habituado a ver grandes espaços de vinha seguidos, colinas, vales repletos de vinha, como por exemplo podemos ver nas magnificas paisagens do Douro.

No Dão, esse tipo de paisagem praticamente não existe, não se encomtram mares de vinhas.

No Dão, vinhas e matas andam de mãos dadas
Esta região tem a caracteristica de ver as suas suas vinhas espalhadas, organizadas em milhares de micro-parcelas, muitas vezes não ultrapassando o meio hectar. As vinhas por vezes mal se vêm das estradas, tem de sir a procura delas pelos caminhos velhos, escondidas muitas vezes atras de matas de pinheiros e eucaliptos.
  







Policultura
Ao contrario de outras regiões vitivinicolas onde a monocultura é a regra, no Dão reina a policultura, ao lado das vinhas encontramos outras variedades de frutas, arvores, plantas e legumes. 

Quem se interessa pela natureza, sabe que isso é optimo para a biodiversidade e para a vida dos solos.

E no final, acredito que isso tambem sirva o vinho.





A vinha da “Môlhada” não foge a regra, é uma pequena vinha, com menos de meio hectar, cercada por pinheiros, oliveiras, e diversas plantas selvagens ou cultivadas. 






Trata-se de uma vinha antiga, com cêpas velhas de 80 anos que vão sendo aos poucos renovadas por re-enxertia, quando chegam, cansadas, a hora de entregar a alma.


 
O suporte dos arames baseia-se em pilares de granito. 

A vinha é suportada por arames atados a pilares de granito
Poda em Guyot duplo
Os arames estão baixos, não estão por isso adaptados a podas do tipo Cordon de Royat, a tal poda “moderna”, mas sim a poda tradicional na região, a poda em Guyot simples ou duplo.

























A densidade de plantação é alta, as entrelinhas curtas, pois antigamente não havia tractores.

Entrelinha curta, não permitindo a passagem de tractor

O trabalho deste tipo de vinhas é por isso mais duro e custoso, pois as curras e os trabalhos do solo são realizados manualmente, sem tractor. Mas tambem ha nisto pontos positivos, pois sem passagens de tractor, o solo não se torna tão compacto, o que facilita a drenagem da agua nos solos, assim como o seu arejamento.

 
O solo é granitico, arenoso, solo “rosso” como dizem os antigos.

Solo granitico, arenoso





Neste caso da Môlhada, o grão é fino e é engraçado porque isso tem se refletido na prova do vinho que dali fiz em 2010, quando comparado, por exemplo, com o que fiz no mesmo ano com as uvas da vinha do Ti João Galracho, onde a composição do solo é similar mas com uma estrutura um pouco mais compacta.O vinho da Môlhada tem se mostrado mais fino nos seus taninos, mais elegante, enquanto que o vinho da vinha do Ti João tem se mostrado mais estruturado, mais potente de certa forma.

A finura do grão do solo é transmitida ao vinho

A nivel de castas, penso que esta vinha é bem representativa do que podemos encontrar na sub-região da Serra da Estrela, onde o Jaen esta bem presente, misturado na vinha com cêpas de varias castas tintas e brancas. 

O Jaen reconhece-se facilmente pela sua folha cheia e redonda

Nas tintas encontra-se muita Baga, talvez casta tinta mais presente a seguir ao Jaen. A Baga é conhecida na aldeia sobretudo por nomes como Carrega o Burro ou Santarem. Suponho que o nome Carrega o Burro lhe vem da sua forte produtividade, mas Santarem não sei donde vem. A seguir a Baga e Jaen, encontra-se muita coisa, algumas nem se sabe bem o que é. Do que identifiquei com o meu sogro, posso mencionar o Bastardo, a Tinta Pinheira, o Negro Mouro, a Tinta de Mina (casta tintureira de que falei num anterior post) e algum Tourigo (como chamam localemente a Touriga Nacional).

A folha da Tinta Pinheira tambem se reconhece facilmente, muito marcada pelos multiplos dentes
O Jaen é uma casta tipica de que os locais gostam muito, muitas vezes a casta que preferem, por a acharem muito saborosa.

Localmente, os pequenos lavradores vindimam as suas vinhas velhas de uma so vez, colhendo o Jaen ao mesmo tempo que as outras castas da vinha. O problema é que o Jaen é uma casta precoce, amadurece mais cedo do que as outras castas e quando vão vindimar em finais de setembro ou em outubro, o Jaen ja esta sobremaduro ou mesmo em passa, muito doce e sem acidez. Sentia isso quando provava o vinho do meu sogro dos anos anteriores, sentia doçura a mais, compotas. O mesmo fenomeno se passava com as uvas brancas, pois aquando da vindima ia tudo misturado, branco e tinto. E como o branco amadurece mais cedo que o tinto...

A boa frescura que apesar de tudo o vinho apresentava, penso que se devia ao local, ao clima e solo, mas tambem as outras castas do field blend, como a Baga, muito presente nestas vinhas.

Como não gosto de vinhos enjoativos, tentei separar o Jaen do resto, vindimando-o mais cedo, quando estava no ponto, permitindo-me assim conhecê-lo melhor e trabalhar o resto a parte, obtendo assim dois vinhos equilibrados. Mas isso contarei num proximo post.

Voltando as castas da Môlhada, procurei perceber o nivel de presença do Jaen e das castas brancas na vinha. O meu sogro deu-me uma ajuda e num fim de tarde de Agosto 2010, la fomos inventoriar as cêpas da Môlhada.


Ao todo 27% das cêpas eram de Jaen, o que equivale a 35% das cêpas tintas.
As brancas respresentavam 24% das cêpas.
Conclusão o Jaen e as castas brancas representavam 51% das cêpas, o que certamente explica a tal doçura...

E por agora é tudo!
Espero ter dado uma boa amostra do que são as vinhas dos lavradores no Dão, as vinhas de minifundio.

Ha ja me esquecia...
Quem um dia passar pela Môlhada, alem destas cêpas e da natureza envolvente, podera tambem encontrar uma palheira!


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