Nestes dias de inverno, aproveitei algum tempo livre para continuar as minhas pesquizas por terras do Dão serrano. Desta vez aproveitei para ir até aldeias que ainda não tinha explorado.
Num Domingo a tarde, la fui mais uma vez a procura dos sitios certos. O tempo estava cinzento e frio, nada convidativo. Cheguei a uma pequena aldeia de que ja tinha ouvido falar mas onde ainda não tinha nenhu contactos. O carro andava devagar para que possa andar a olhar a volta a ver se via algo de interessante.
Entro na povoação e nada, ninguem nas ruas. Continuo e não vejo uma unica alma. E caso para dizer que por estas bandas do interior do pais a desertificação ja anda bem adiantada.
O carro continua a rodar pelas ruas estreitas da povoação até que, num momento de lucidez, vejo gente por uma pequena janela, num local que me parece ser um "clube", um daqueles tascos que so abrem ao fim de semana ou em certas ocasiões ao fim dos dias de semana. Estaciono, saio do carro e la vou eu até ao "clube".
Ao entrar, deparo com uma pequena sala, onde se juntaram umas vinte pessoas, todas dos 60 anos para cima. Aproximo-me do bar e peço o mesmo que todos estão a beber, um tinto. O senhor atras do balcão saca um garrafão e serve-me num daqueles copos tipicos dos tascos. Aproveito para lançar a conversa, perguntando ao senhor se o vinho era da aldeia, ou se vinha de alguma cooperativa. Responde-me que é da aldeia e que ali so servem os vinhos da gente local. Muito bem!
Provo o vinho, muito bom, sim senhor, belo vinho, bem acima dos vinhos correntes engarrafados, bem mais saboroso. Continuamos a conversa, faço perguntas a cerca das vinhas locais, dos encepamentos, das idades das vinhas, dos solos, do clima, etc... Aos poucos entram tambem outras pessoas na conversa, o pessoal anima, e la fiquei assim umas duas horas a conversa com pessoas com idade para serem meus avos.
Chega um momento e pergunto : "então e quais sãos as castas que aqui se dão melhor?"
No inicio respondem-me varias vezes "aqui dão se todas bem, o Tourigo, o Alfrocheiro, o Jaen, o Fernão Pires, o Borrado das Moscas..."
"Ok mas não ha uma que se destaca mais, que se da melhor?"
"Da-se tudo bem, aqui é a zona do Dão por excelência"
Insisto, virando-me para o senhor detras do balcão : "Então e você não tem nenhuma casta que aprecia mais do que as outras?"
Responde-me "O Jaen, aqui é tudo bom mas o Jaen é que é"
"Porque razão o Jaen?"
"Aquele aroma é imbativel"
De repente, toda a sala se poem a dizer "pois é o Jaen é que é", "e mais te digo, se não juntares Jaen ao Tourigo, o vinho ja não sai tão bom", "pois é o Tourigo sozinho não vale nada"...
Depois de mais umas conversas, la volto eu para casa, com a convicção de cada vez melhor conhecer a região e as suas gentes, mas ao mesmo tempo com a consciência de que algo de grave se esta a passar por aqui. Daqui a dez/vinte anos, se dar a mesma volta, voltarei a encontrar algume por estas bandas?
António sem dúvida muito interessante a tua historia, e eu sendo neto de agricultor muitas vezes faço esse tipo de perguntas ao meu avô e ele sabe exactamente quais sao as melhores uvas e quais as que se complementam. Inclusive diz a vinhão dá cor, padeiro dá estrutura ou acidez e por aí fora...como deves imaginar sou da região dos vinhos verdes!
ResponderEliminarGrande região e que tem bastante a ver com o Dão.
ResponderEliminarO saber empirico dos nossos avos é muito valioso. Daqui ha uns anos arriscamos a perder muito desse conhecimento.