Como
expliquei no episodio 6, a
minha primeira vindima consistiu em escolher e vindimar unicamente o Jaen de
duas vinhas velhas diferentes, onde pontificam muitas castas autotocnas
misturadas.
Foi
complicado e trabalhoso, porque no meio de tanta cepa de castas diferentes so
escolhiamos o Jaen. Era preciso reconhecer as plantas. O que me valeu é que o
Ti João, o meu sogro e as pessoas que me ajudaram sabiam reconhecê-las facilmente
a olho. Para mim ja era mais dificil, por isso cada vez que tinha duvidas
perguntava.
Tambem me
encarreguei mais das tarefas de manutenção, posicionava as caixas de vindima
nos diferentes corredores para minimizar os passos as pessoas e ajudava-os a
decarregar os baldes nas caixas. As caixas cheias tentava deixar bem a sombra,
de maneira a manter os cachos frescos.
Uma
dificuldade que tive (e que se repetiu em cada vindima, embora cada vez menos)
é que apesar de repetir as pessoas que so queria uvas maduras e sãs, eles
tinham do das uvas e queriam apanhar tudo, verde e podre incluido,
principalemente as pessoas mais idosas. Tinha no meu sogro um aliado, ele ja
estava convencido do bem fundado desta medida, mas para as pessoas idosas da
aldeia, deixar nas cepas as uvas verdes ou podres, é “desperdicio” ou mesmo
“pecado”. Diziam eles, “as uvas são todas boas”, “sempre fizemos assim”,
“doi-me o coração deixa-las”, “então mas as uvas estão tão bonitas”.
Penso que
alem do facto de terem falta de conhecimento técnico sobre as consequências de
misturar verdes e uvas com podridão as uvas sãs, talvez uma das explicações
provem do facto de estas pessoas terem vivido um vida dificil e pobre.
Conheceram tempos de fome e de miséria no passado que deixam marcas.
Tentava ser
pedagogico, mas não era facil, pois as pessoas mais idosas são teimosas e
dificilmente mudam de opinão. Com o pessoal mais jovem ja era mais facil, ja
aceitavam mais. Tentei contrariar isto tambem retirando das caixas uvas que não
queria e alertando.
O meu sogro
tambem me ajudou nesta tarefa.
As 10h
tinhamos colhido a volta de 250kg de Jaen, ou seja metade de uma barrica. A
outra metade seria colhida na vinha da Molhada, por isso paramos.
O Ti João
Galracho trouxe a sua balança e fomos pesar o que tinhamos vindimado na sua
vinha.
O preço era por arroba (1 arroba = 15 kg).
O Ti João
disse-me que esperava que lhe comprasse mais uvas.
Expliquei-lhe que de Jaen so
podia “comprar esta quantidade” porque queria “misturar com o Jaen da Molhada”
(a vinha do meu sogro).
Tambem lhe disse “não se preocupe, a sua Baga velha é
muito boa, quando o resto da vinha estiver pronta, voltamos e dessa vez
vindima-mos umas 30 arrobas”.
La ficou mais sossegado.
Fomos então
para a vinha da Molhada, vindimar Jaen, seguindo o mesmo método.
Acabamos ao
meio dia. Fomos directamente a adega da Pellada, para desengaçar.
O
desengaçador estava a ser utilizado, o “Engenheiro” disse-me então “To deixa ai
as caixas dentro da adega que ficam ai bem protegidas do calor, logo a tarde ja
as passamos pelo desengaçador”. Ficou combinado e fomos então almoçar
tranquilos e cansados por uma manhã intensa e trabalhosa.
Voltamos a
adega depois ao inicio da tarde e entre duas chegadas de uvas das vindimas da
Pellada, la passamos as uvas no desengaçador da adega.
Deitamos o
conteudo no recipiente a entrada do desengaçador e recuparavamos os bagos
desengaçados do outro lado, caindo directamente para a caixa.
Pode
parecer um detalhe mas o facto do Alvaro Castro me ter deixado utilizar o desengaçador
foi uma grande ajuda. Pois na aldeia, nenhum lavrador desengaça e o François
Chasans ja me tinha avisado que os pequenos desengaçadores que se encontram no
comercio são muito maus, sendo mesmo preferivel não desengaçar do que
utiliza-los. Um bom desengaçador custa 10 000€... Ou seja esta fora do meu
alcance. Por isso foi mesmo bom ter esta possibilidade.
Antes de
levarmos as caixas passo ver a Maria, ela calcula e da-me a dose necessaria de
sulforoso numa garrafita de agua das pedras e la vou eu.
Levamos
então as uvas desengaçadas nas caixas para a casa do meu sogro, para a parte da
loja que transformei em mini adega.
Mal
chegamos e recebo um telefona do Eng. Castro “To experimenta pisar as uvas
directamente nas caixas antes de as deitares para as dornas”, “ok”, assim fiz,
pisando uma a uma cada caixa e vertendo o conteudo progressivamente na dorna
onde se ira realizar a fermentação.
Limpo tudo,
tapo a dorna com um filme plastico de maneira a proteger o mosto da oxigenação,
meço a densidade (1101), a temperatura (24°C ) e colho uma amostra.
Volto
rapidamente a adega da Pellada para analisarmos a amostra com a Maria.
4,2g/l de acidez total
3,77 de pH
A Maria
diz-me que o pH esta alto e que isso pode ser perigoso.
Para prevenir
eventuais alterações devido a bacterias sera melhor fazer descer o pH.
Prepara
então um pequeno saco com acido tartarico.
Quarta-feira
de manhã deito o acido tartarico no mosto, misturo.
Mais alguma pisa...
Meço a densidade e a temperatura.
Constato que esta tudo igual e que a fermentação ainda não arrancou.
O mosto
continua a macerar calmamente por baixo da manta plastica.
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