Ao contrario do costume, o post de hoje não vai servir para vos relatar as minhas aventuras enquanto vigneron.
Hoje apetece-me falar de outros vinhos, de vinhos de gente amiga que tem feito na minha opinião um grande trabalho. Antes de ser vigneron, era e continuo a ser, enofilo. Gosto de provar, gosto de beber vinho. Gosto de puxar a coisa cada vez mais longe. Tive a sorte de por ser parisiense ter acesso a muita coisa que em Portugal ainda é ambrionario. O meu gosto, um pouco a semelhança do que se passa um pouco por todo o planeta vinho, tem se orientado para vinhos de terroir, para vinhos com o menos de interferencia possivel entre a terra e o copo, os vinhos a que chamo de "naturais".
Hoje em dia em Portugal estão a ser desenvolvidos projectos nesta onda. Ainda são poucos, é certo, mas permitem me ter alguma coisa para beber a mesa que me dê verdadeiramente prazer.
Poderia falar de varios vinhos e de varios projectos e pessoas, mas hoje vou me focar nos 3 que mais me emocionaram neste inicio de 2017. Vinhos que tive a oportunidade de provar nas ultimas semanas, principalmente a volta dos eventos Simplesmente Vinho, no Porto e em Barcelona, mas não so.
Esta lista não é exaustiva do que se faz de bom em Portugal, havera mais oportunidades para falar de outros projectos, não me levem a mal.
Em todo o caso, o que escrevo aqui reflete a minha sincera opinião. Havera sempre gente que não vai gostar que eu dê a minha opinião. Paciência.
Os vinhos do Slava Izmailovs
O Slava é rapaz que conheço ja ha alguns anos. Originario da Letonia, vive em Portugal com a sua familia, mas passa grande parte do seu tempo a viajar pelo mundo a procura de grandes vinhos para os seus clientes em Moscovo.
E uma pessoa com um conhecimento profundo do mundo do vinho, tem tido acesso ao que se faz de melhor, aos vinhos genuinos, aos vinhos de terroir que são procurados um pouco por todo lado.
Foi alem da prova e tentou perceber as tecnicas de trabalho que estão por detras destes vinhos, na vinha e na adega.
O Slava começou agora a lançar alguns dos seus vinhos pessoais, vinhos de diferentes regiões portuguesas. Vinhos com o nome "umbrella" de "Fio de Terra".
Num almoço recente, tive a oportunidade de provar os seus brancos da Bairrada (feitos em colaboração com o Mario Sergio da Quinta das Bageiras) e os seus tintos do Dão (feitos em colaboração com a Quinta dos Roques).
Fiquei sinceramente impressionado. Impressionado com os vinhos e impressionado com as capacidades em termos de vinificação, loteamento e gestão de estagio do Slava. Uma visão que faz falta ao mundo do vinho português.
Os brancos deram me um prazer como poucos vinhos me têm dado. Fantasticos! Vinhos de grande pureza, minerais, frescos, salinos, super sapidos. Mesmo bons. Vinhos que na minha opinião são de grande, grande nivel! Daquelas garrafas que podemos esvaziar em tempo recorde.
Os tintos do Dão do Slava que pude provar são tambem impressionantes de finesse e complexidade. São vinhos sapidos e que cheiram verdadeiramente a Dão. Claramente um dos tintos do Dão que mais me deram prazer nos ultimos tempos (quase que apetece dizer "finalmente!").
Os vinhos do Tiago Teles
Tive a oportunidade de voltar a provar os vinhos do Tiago Teles no Simplesmente Vinho em Barcelona, e tambem na prova do nosso distribuidor comum no Algarve, a Wine Emotions.
Fiquei impressionado com as novas colheitas do Tiago. Os seus tintos de 2015 da Bairrada, o "Maria da Graça" e o "Gilda" estão mesmo bons. Vinhos num estilo "vin de soif", descomplicados, vinhos com grande frescura, para beber as copadas. Este estilo ja estava presente nas edições anteriores, mas nestes 2015, fiquei com a sensação que o Tiago subiu claramente de um degrau a fasquia. Estes 2015 são mesmo bons, apresentam uma intensidade de sabor impressionante. Vinhos de puro prazer.
Fiquei tambem deliciado com o seu Raiz, um branco da região dos Vinhos Verdes, feito a partir de uvas da casta Loureiro. Um vinho completamente diferente do habitual na região mas bastante coerente com o que esta a ser procurado la fora, vinho natural, sem produtos enologicos e cujas uvas foram vinificadas com maceração. O Tiago teve a coragem de engarrafar sem colagem e filtração, resulta um vinho com pouca limpidês, mas cuja intensidade de sabor tem pouco equivalentes na região.
Fiquei com a ideia que o Tiago Teles é claramente um dos representantes da nova vanguarda do pais, pela visão, pela cultura vinica e pela audacia e resultados alcançados nos seus vinhos.
Mais um caso de alguem que esgosta toda a produção la fora, sem o devido reconhecimento e procura ca dentro.
Os vinhos do Pedro Marques
O Pedro é outro amigo cujo trabalho e vinhos vou seguindo ha alguns anos.
A verdade é que cada ano que passa, sinto progressão nos resultados e hoje fico impressionado com a qualidade e o caracter dos vinhos que esta a produzir a partir de vinhas ainda muito novas.
Se hoje em dia com vinhas quase "bébés" ja apresenta estes resultados, então não ha duvidas do
potencial deste projecto, o futuro sera sem duvida risonho.
Os vinhos do Pedro, os Vale da Capucha, são principalmente conhecidos pelos seus belos brancos atlanticos. Mas na minha opinião, devemos ter atenção aos seus tintos. Fiquei recentement impressionado com o sue Fossil Tinto, um vinho tinto que apresenta uma mineralidade (calcario) pouco comuns. Um vinho onde sentimos iodo como poucos.
Como disse na introdução, ha mais bons exemplos de vinhos que me enchem as medidas pelo pais fora. Mas hoje apetecia me falar destes rapazes e dos seus vinhos. Bem merecem!
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