Chegou o pintor nas vinhas que cultivo no Dão, no sopé da Serra da Estrela.
No post de hoje vou por isso partilhar convosco algumas fotos que mostram o estado actual de duas vinhas, a centenaria e a vinha da Serra.
As fotos foram tiradas ontem, dia 01 de Agosto 2016.
Como podem ver existe variações do estado de avanço entre as videiras. Isso deve-se a varios factores, sendo talvez aqui o factor casta o predominante.
Algumas castas são mais precoces que outras. Os casos de castas que amadurecem cedo na zona são a Jaen e a Bastardo, isto falando dos casos que melhor se conhecem. Até podem existir outras naquele rol de castas antigas que por enquanto desconhecemos.
Focando agora na questão puramente estética, é uma altura do ano em que as cêpas começam a ficar ainda mais bonitas, diversicando as cores e nuances.
E um momento exitante quando chegamos a vinha e vemos o primeiro bago a mudar de cor.
Nas castas brancas é mais dificil de se perceber, pois os bagos em vez de virarem para o roxo, deixam o verde para um amarelo um pouco translucido, portanto mais dificil de distinguir.
Esta altura, que chamamos "pintor" (versão lusa) ou "veraison" (termo técnico francês), é um ponto de viragem importante, uma étapa importante do ciclo vegetativo. Pois é o momento em que a principal preocupação da planta deixa de ser o seu desenvolvimento vegetativo e passa a se concentrar na maturação do seu fruto.
A partir de agora, as energias que a planta encontra no solo e no sol, ja não serão canalizadas exclusivamente para o seu crescimento. As varas param agora de crescer, as energias são agora canalizadas para os cachos. De certa forma é como se se tratasse de uma mãe que agora se concentra na alimentação dos seus filhos.
Dizem os livros que o ponto de maturação ideal sera atingido 45 a 60 dias depois do pintor, o que aponta la para segunda metade de Setembro no nosso caso. Isto dependera muito das condições climatéricas em Agosto e Setembro.
Até la ainda temos algum trabalho para fazer. Temos que arrejar os cachos. Como podem ver nestas fotos temos algumas cêpas mais produtivas que precisam de se criar espaço entre os cachos para não ficarem agarrados uns aos outros. E que ficando uns contra os outros, vão acabar por desenvolver podridão quando ficarem mais maduros e que a chuva e humidade aparecerem.
Este trabalho de arrejamento, consiste em reorganizar a disposição de cachos, varas e folhas. Passa tambem por sacrificar alguns cachos, quando não temos alternativas em termos de mudança de disposição.
E o preço a pagar, até porque no nosso caso não vamos currar mais este ano, nem nunca curramos para o podre. Os cachos ficam portanto sem proteção quimica para a podridão e convem de criar um ambiente local favoravel a sanidade dos cachos.
Porquê não curramos para o podre? Porque é um tratamento que afecta muito as leveduras indigenas nas peliculas dos cachos. Se tratarmos para o podre, vamos ter problemas de fermentação mais tarde. Seremos nesse caso quase que obrigados a utilizar leveduras de pacote que vendem laboratorios especializados. E nesse caso acabariamos por de certa forma estandardizar o vinho, tornar-lo igual a tantos outros, com os mesmos gostos e sabores. Não é de todo o que procuramos, não queremos alterar o gosto e o sabor genuino destas uvas, não queremos que o nosso vinho perca a sua "alma".
Por isso em vez de alinhar pela facilidade, vamos continuar a trabalhar na vinha, fazendo este trabalho de arrejamanento. Vamos continuar a trabalhar muito na vinha, para que depois não precisamos de corrigir o quer que se seja na adega.
Ou contrario de ideias falsas que circulam isto não é minimalismo. O facto de não precisar de intervir quimicamente na adega, não significa que não se faz nada....
Significa que trabalhamos durante o ano e muito. Provavelmente muito mais do que a grande maioria dos convencionais.