sábado, 12 de novembro de 2011

Tinta de Mina - uma casta desconhecida em vias de extinção

Nesta foto podemos ver o Ti Zé Rebelo apresentando uma cêpa de uma casta antiga e em vias de extinção, conhecida localmente na aldeia por "Tinta de Mina".

Trata-se de uma casta que se encontra nas vinhas velhas a beira da Serra, misturada com muitas outras.
Por exemplo, numa vinha velha, em 100 cêpas, encontramos ali umas duas ou três de Tinta de Mina.

Esta casta tem uma utilidade muito especifica na mistura. Os antigos plantavam-na de maneira a trazer mais cor ao vinho, pois trata-se de uma casta tintureira.

E o que é uma casta tintureira? preguntam-se os mais curiosos.
E uma casta que tem a polpa corada. Em geral, as uvas que dão o vinho tinto, têm a polpa branca, transparente. A pelicula é que é corada, é ela que da a cor ao vinho tinto, por contacto com a polpa, depois de as uvas estarem pisadas no lagar.




Nesta foto pode se ver que até o engaço tem tons avermelhados.



As castas tintureiras são muito raras. Em Portugal nas cento e tal castas tintas que temos, so duas ou três é que são tintureiras.
As duas mais conhecidas são :
- O Vinhão no Minho, a casta que origina os vinhos verdes tintos e que é conhecida pelo nome de Sousão no Douro, entrando ai em lotes de alguns vinhos do Porto, e mais recentement do Douro DOC.
- O Alicante Bouschet, essa mais no Alentejo, casta de origem hibrida, vinda de França no século XIX e que origina actualmente alguns dos melhores vinhos do Alentejo.


Então o que é a Tinta de Mina?
Sera o Sousão?
Sera o Alicante Bouschet?

O Alicante Bouschet é pouco provavel, pois no Dão não tem historial.
Talvez o Sousão/Vinhão, pois alem da cor, partilha com a Tinta de Mina a caracteristica de ter muita acidez.

Até agora, e apesar de ter perquisado, não consegui descobrir de que casta se trata...
Ja levei amostras a tecnicos, enologos e produtores e ninguem conhece tal casta...

O mais provavel é que daqui a uns anos, quando desaparecerem os velhotes, e com eles as vinhas velhas, esta casta tambem desapareça e assim o patrimonio génético e viticula português fique empobrecido...
Coisas dos tempos pseudo-modernos...



7 comentários:

  1. António, envio-te uma ligaçao e talvez assim poderás extrazer a tua conclusâo.

    http://www.wineanorak.com/wineblog/portugal/sousao-is-not-a-teinturier-variety

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  2. Obrigado Emilio.
    Surpreendente esse post na wineanorak.
    O que te posso confirmar é que a Tinta de Mina tem a polpa bem vermelha.
    Sera Alicante Bouschet?
    Teria de conversar com alguem que conheça bem o AB para tirar duvidas, mas no Dão é dificil encontrar tal pessoa.
    Outra caracteristica que notei nesta casta é a dificuldade de maturação. Na altura das vindimas, quando andas pelas vinhas com o refractometro, notas bem a diferença. Quando outras castas da vinha velha andam a volta dos 13% de alcool provavel, a Tinta de Mina anda entre os 7/9 %
    A acidez tambem é tremenda.
    Estas caracteristicas faziam-me pensar no Vinhão nos Vinhos Verdes, mas talvez esteja enganado.
    Continuo com as duvidas.

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  3. Antonio no que toca ao ao Alicante podes sempre tentar contatar o Prof. Paulo Laureano e se há alguem que possa conhecer é ele....podes sempre contatar pelo geral@paulolaureano.com.

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  4. Posso questionar se chegou a alguma conclusão sobre que casta efectivamente se trata ? Tenho nos últimos analisado, por vezes com a colaboração de velhotes que foram enxertadores, as vinhas muito antigas que ainda existem em Gavião, Distrito de Portalegre, onde tenho efectuado recolha de garfos e onde essa casta também existe, pela foto reconheci logo da que se tratava. Um factor em comum, existe em quantidade muito reduzida na globalidade da vinha, tal como também é aqui descrito e já é uma raridade. Como aqui era apanágio misturar uvas brancas e tintas e não colocar na fermentação toda a casca das uvas pisadas, era utilizada com o objectivo de dar alguma cor ao vinho e era denominada por "Tinturão".

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    1. Antes de tudo, aproveito para felicitar o Sr.António Madeira pelos excelentes conteúdos que tem neste blog. Sou um jovem alentejano de Nisa, perto do Gavião e sou um curioso relativamente aos encepamentos existentes no Alto Alentejo, seria possível obter o seu e-mail Sr. Rui para obter mais informações acerca deste tópico. Desde já, obrigado pela atenção.

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  5. Bom dia Rui Delgado,
    Obrigado pela sua pergunta.
    Deixe-me lhe dizer que a zona de Portalegre é para mim uma zona especial, com grande potencial.
    Acerca da Tinta de Mina, sim cheguei a uma conclusão com a ajuda do identificador de castas da CVR do Dão. Segundo este identificador trata-se de Alicante Bouschet, casta presente a volta de 5% nas vinhas velhas do sopé da Serra da Estrela.
    Confesso que foi para mim uma surpresa, pois nunca tinha ouvido ninguem falar do Alicante Bouchet no Dão, mas de facto esta bastante presente nas vinhas que cultivo, mesmo em vinhas com mais de 100 anos, o que testemunha da sua origem longiqua na região.
    Cumprimentos.

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    1. Caro António Madeira, recentemente visitei uma vinha velha na zona de Nisa e pela primeira vez conheci a casta tinturão, sobre a qual fiquei bastante curioso. Muito obrigado pela partilha de conhecimento acerca da origem desta casta. Seria possível detalhar mais algumas características da casta. Muito obrigado pela atenção.

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