As vindimas de 2014 foram as 5as que fiz e claramente as mais complicadas, as mais dificeis de realizar.
Cheguei ao Dão em meados de Setembro.
Pelo terceiro ano consecutivo, encontrei maturações ainda incompletas, a precisar de mais tempo, encontrei um ano tardio.
Uvas belissimas, mas ainda sem chegarem ao "ponto" de equilibrio que procuro.
Na prova dos bagos notava-se ainda verdura, embora tambem se notasse que o ponto ja não estava muito longe.
A primeira medição do alcool provavel ocorreu no dia em que cheguei, dia 13 de Setembro.
As amostras das diferentes vinhas indicavam um potencial de alcool provavel a volta dos 11% em varias parcelas.
Assim que cheguei, levei com uma semana e meia de tempo instavel, na maior parte do tempo de chuva.
Foram dias dificeis, stressantes.
As vindimas poem a prova o viticultor, é um momento determinante.
Em circunstancias como as de 2014, ficamos na altura a pensar se todo o trabalho do ano, não vai abaixo e com ele as nossas esperanças, ficando o futuro do projecto em risco.
Passamos por estes momentos, procurando soluções, tentando gerir o melhor que sabemos.
No meu caso esperei por uma acalmia do tempo para começar a vindimar o branco que estava espalhado pelas diversas vinhas velhas.
Dia 18 de Setembro de manhã, uma quinta-feira, la fomos nos vindimar o meu branco de 2014.
Com o meu sogro, tios e familiares a ajudar, la fomos nos.
Gente a quem devo muito, que me ajudaram a vindimar com grande dedicação e rigor.
Foram espectaculares! Nunca vou esquecer. Gente boa.
Nesse dia, tive a visita do meu amigo François Chasans, da Quinta da Vacariça, na Bairrada.
O François é um francês apaixonado por Portugal e seus vinhos, apaixonado pela Baga e que tem desenvolvido o seu projecto vitivinicola na Bairrada, procurando a exelência em cada pormenor.
Um amigo de verdade, com quem tenho aprendido muito.
Encontramos belas uvas brancas, frescas, sãs, a entrar na fase madura.
Um equilibrio mais fresco do que no ano anterior, prometedor.
Ao menos o branco estava safo.
A chuva continuava a ameaçar.
Basicamente o tempo estava com nos pesadelos dos viticultores, muito mau mesmo.
Condições dificeis para amadurecer a uva e propicias para o desenvolvimento de podridão.
Ao fim de uma semana de espera pude apanhar as primeiras uvas tintas.
Uvas provenientes das parcelas mais adiantadas a 20 de Setembro, das vinhas com maior exposição solar.
Depois tive de esperar mais uns dias que voltasse a parar a chuva, para ver como estava o resto das vinhas que faltavam de vindimar.
A podridão desenvolvia rapidamente em algumas vinhas, principalmente em castas mais sensiveis como a Baga.
Tinha de apanhar a uva sã, deixando de lado os podres. Um trabalho de triagem na vindima, na propria vinha, que não deixou ninguem feliz. Mas tinha de ser.
Ao todo perdi uns 40% da quantidade de uva que pretendia fazer este ano. Perdas elevadas.
Foi duro, muito frustrante.
Perdemos uvas não so pela podridão cinzenta que tinha aparecido nestes utimos dias, mas tambem por alguma podridão acética de bagos rebentados por causa da traça.
Traça que algumas das vinhas tinham apanhado mais cedo no ciclo vegetativo.
As perdas tambem se devem ao facto de muita uva não ter nascido este ano. Varias cêpas ficaram este ano sem dar cachos, fenomeno estranho, que se constatou no Dão e no pais em muitas vinhas. Até agora ninguem me soube explicar bem as causas deste fenomeno.
Portanto, no meu caso, 2014 não foi um grande ano em quantidade, o que para "as contas" não é muito bom... Faz parte das regras do jogo, a vida do agricultor tem destas coisas.
Olhando pela positiva, perdi quantidade, mas menos do que cheguei a temer. Posso me dar satisfeito por ter vindimado e ter vinificado este ano.
Tentamos apanhar apenas a uva boa e tirar o melhor partido da quantidade apanhada.
As analises aos tintos na vindima, estavam algo atipicas.
A analise média era de 12% de alcool provavel, pH de 3.2 e acidez total de 8 g/L.
Niveis de acidez mais usuais em brancos, pH bastante baixos, alem da graduação pouco puxada, marcam os vinhos desta colheita. Espero por isso vinhos cheios de energia, vivos. Veremos o que nos dirão as provas no futuro.
As fermentações decorreram bem.
Cheguei a recear que as leveduras indigenas tivessem sido demasiado "lavadas" pela chuva abundante deste mês de Setembro, mas tudo correu bem, felizmente, o que me conforta na ideia que não que ter receio de deixar fermentar o mais natural possivel.
Agora os vinhos resultantes repousam em cubas a espera da primeira trasfega.
Obviamente ainda é cedo para prognosticos, embora palpite que alguns estarão melhor que outros.
A vindima, essa, acabou.
Agora é tirar lições para o futuro e continuar o trabalho.
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