domingo, 24 de março de 2013

Mais uma experiência em 2013

Aproveitei a semana passada no sopé da Serra da Estrela em finais de Fevereiro para continuar a pesquizar e identificar parcelas de vinha com potencial.


Num desses dias voltei a pesquizar uma zona que aprecio particularmente e onde se encontram varias vinhas muito interessantes, principalmente pela qualidade do local. 

Encarrei assim com uma vinha ainda por podar, no meio de varias parcelas ja podadas. Naquela altura do ano, a poda ou ja foi feita ou esta a acabar. Gostei do sitio, do solo em particular, muito mineral e com desnivel. Alem disso a exposição tem um poente bom.



Voltei la uns dias mais tarde e a vinha continuava por podar... Estranho!

Era fim de tarde, o sol ja estava baixo e reparo que pessoal estava a acabar de podar uma vinha mais abaixo. Vou ter com eles. Pergunto se sabem a quem pertence a vinha.

Explicam-me que o dono ja não a vai podar mais, que a vai deixar morrer...
Indicam-me o nome e a morada do dono, para ir falar com ele. La vou eu.


Chego a povoação la encontro a casa e o dono, uma pessoa ja com uns 60 e tal anos.
Apresento-me, explico-lhe que vi a vinha dele e pergunto-lhe porque ja não a quer podar mais.
Responde-me que bem gostaria, mas que teve um problema de saude que ja não lhe o permite. Alem disso, os filhos ja não vivem na região, não tem ninguem para pegar na vinha.


Pergunto-lhe se não esta interessado em arrendar a vinha e responde-me que não. Fico surpreendido e pergunto-lhe "porquê?"

"Sabe, dediquei-me muito a esta vinha, não imagina o trabalho que tive nela. Em tempo, cheguei a ir buscar estrume de proposito ao Sabugueiro...", "Prefiro deixa-la morrer, do que vê-la mal tratada por outra pessoa", "se reparou bem eu so deixo 3, 4 olhos nas videiras, não lhes deixo carga a mais".

Enquanto o homem me apresentava os seus argumentos, percebo que estou perante alguem que sabia do que estava a falar, sabio e apaixonado. 

Peço-lhe se é possivel provar o seu vinho. 
"Claro, vamos a isso". 

Descemos a loja. 
Os copos são os habituais copos de tasco, não são bem apropriados a prova, mas bom, se não permitem analisar os aromas, sempre permitem beber.

O homem abre dois garrafões, um de branco e outro de tinto, vira-se para mim e diz-me "agora é que vais ver o que é vinho!"

Serve primeiro o branco. Provo, sente-se o gas, deve ter engarrafado sem que a malolactica tenha terminado. Não da muito para ter uma opinião definitiva.


Depois serve-me o tinto. Pego no copo, levo ao nariz, apesar do formato do copo, parece-me estar ali algo de interessante.

Depois, levo o vinho a boca e ai passa-se algo fora do normal! 
O vinho esta limpissimo, sem alterações, puro, concentrado, tenso, com uma frescura terrivel. Um equilibrio impressionante!
Em termos de sabores, encontro uma mineralidade incrivel envolvida numa manta de fruta vermelha densa e fresca. Recordo-me que naquele momento veio a cabeça a imagem de pedras a rolarem num ribeiro, era mesmo essa a sensação que tinha na boca! Tipo ondas de pedras a rolarem num ribeiro de fruta. Sensações destas são mesmo raras, so mesmo em grandes vinhos. Fantastico! 


Viro-me para o homem e "digo-lhe gosto mesmo disto, tem razão, isto sim é vinho!", "é mesmo uma pena você deixar morrer a vinha".

Continuamos a falar e chegamos a um acordo que agrada a ambos. Experimento este ano, podo a vinha, trato dela, se no fim do ano o senhor gostar da minha maneira de trabalhar, continuo nos outros anos, se não gostar, saio.
















E

E agora a terceira vinha de que trato.
Em termos logisticos (e não so) começa a tornar-se complicado...
Mas se não experimentasse esta vinha, penso que ficaria sempre com remorsos.

A aventura vai assim crescendo passo a passo.

quarta-feira, 20 de março de 2013

O estrume compostado

Depois de o cavalo ter aberto os regos, la foi a minha dream team dar de comer as videiras com estrume compostado.



Um trabalho em que o pessoal se auto-organizou, encontrando sistemas e estratégias para serem o mais eficientes possivel.



Tudo decorreu lindamente.


As poucos, cada rego ia recebendo a sua dose de matéria organica.


Este trabalho de ventilação do estrume levou um dia a realizar.




Talvez não estejam a imaginar, mas o cheiro era mesmo intenso. No entanto, aos poucos uma pessoa habitua-se.


Ao meio dia juntamos nos todos na Pellada com o pessoal da adega que me têm ajudado, para assarmos umas febras. Passamos assim um bom momento de convivio.

A tarde o trabalho na vinha continuou.


Pessoalmente so la apareci a tarde. De manhã tive de andar a trasfegar vinho de 2012 de uma cuba de inox para as barricas usadas onde tinha o 2011.


Mesmo assim ainda fui a tempo de dar uma mão.


Na manhã a seguir, la se acabou o trabalho, tapando os regos com as enxadas.


A vinha ficou assim preparada para uns bons anos...


...Pelo menos assim o espero.


Veremos como reagera a vinha nos proximos tempos.

sábado, 16 de março de 2013

O cavalo na vinha centenaria

Tal como vos tinha contado anteriormente, a vinha centenaria estava a precisar da ajuda do Homem, para ganhar algum vigor.

Tinhamos a encontrado muito mal tratada, com carga a mais nas podas anteriores, que a tinham deixado muito cansada. Na poda deste ano, a primeira que fiz nesta vinha, deixamos muito pouca carga, a ver se recupera. Nas varas mais fracas, com poucos millimetros de espessura, deixamos, 1, 2, 3 olhos no maximo.

Alem desta poda severa, notava-se que a vinha precisava de comer. Ja não era estrumada ha muitos anos, e notava-se que estava esfomeada. Aproveitei por isso a semana que estive por la em finais de fevereiro para tratar, entre outros deste assunto.

A primeira coisa a fazer, foi encontrar alguem que saiba e esteja habituado a trabalhar com cavalos na vinha. Não foi facil, pois com o desaparecimento progressivo das vinhas velhas, esta arte tambem segue o mesmo caminho.


Mas la consegui e devo dizer que gostei muito da pessoa que encontrei, daquelas pessoas que se nota mesmo que são boas pessoas. Pessoa que conhecia os meus avos e que fui buscar la em cima a Serra.
O cavalo, esse, era mesmo bonito. Aproveitei para levar comigo a minha filha de dois anos, ficou toda contente por ver o "cavalito".


Na quinta-feira de manhã, la se abriram os regos que serviriam a depositar o estrume compostado.


O cavalo puxava o arrade, obedecendo a voz do seu mestre.


A ideia era fazer um rego com duas passagens, carreira sim, carreira não, de maneira a tambem não estrumar demasiado. Mais uma vez, o que importa é o equilibrio!


Um trabalho em que o Homem e o animal conjugam esforços, ligados por laços e instrumentos de outrora.


Era impressionante como o animal percebia e cumpria as instruções do mestre.


Quando chegava ao fim de uma carreira, parava. Ouvia um "vira" e la virava.


Depois, ouvia um "ai não, segue". Resultado : não entrava na carreira seguinte e continuava até ouvir outro "vira".


Conseguia-se assim cumprir o "carreira sim, carreira não", de uma forma tão facil que uma pessoa ficava de boca aberta. Alem de bonitos, os cavalos são mesmo inteligentes!


Cada rego levava duas passagens, para ficarem mais fundos. Idealmente pretendia três passagens, mas o arrade não dava para mais. Por isso, a seguir a "enchada" tambem funcionou.


O trabalho avançava rapidamente, em pouco mais de uma hora, ficaram todos os regos prontos.


De vez em quando, o cavalo, simpactico, ia-nos brindando com umas ofertas...


... de fertilizante gratuito  ;)


Foi uma bela experiência, um bom momento que gostei mesmo de viver.
Alem disso ganhei um novo amigo, com quem poderei contar no futuro.


No dia a seguir, seria a vez de por o estrume compostado nos regos, mas isso contarei no proximo post!

domingo, 10 de março de 2013

Pesquizas pelo deserto

Nestes dias de inverno, aproveitei algum tempo livre para continuar as minhas pesquizas por terras do Dão serrano. Desta vez aproveitei para ir até aldeias que ainda não tinha explorado.

Num Domingo a tarde, la fui mais uma vez a procura dos sitios certos. O tempo estava cinzento e frio, nada convidativo. Cheguei a uma pequena aldeia de que ja tinha ouvido falar mas onde ainda não tinha nenhu contactos. O carro andava devagar para que possa andar a olhar a volta a ver se via algo de interessante.

Entro na povoação e nada, ninguem nas ruas. Continuo e não vejo uma unica alma. E caso para dizer que por estas bandas do interior do pais a desertificação ja anda bem adiantada.

O carro continua a rodar pelas ruas estreitas da povoação até que, num momento de lucidez, vejo gente por uma pequena janela, num local que me parece ser um "clube", um daqueles tascos que so abrem ao fim de semana ou em certas ocasiões ao fim dos dias de semana. Estaciono, saio do carro e la vou eu até ao "clube".

Ao entrar, deparo com uma pequena sala, onde se juntaram umas vinte pessoas, todas dos 60 anos para cima. Aproximo-me do bar e peço o mesmo que todos estão a beber, um tinto. O senhor atras do balcão saca um garrafão e serve-me num daqueles copos tipicos dos tascos. Aproveito para lançar a conversa, perguntando ao senhor se o vinho era da aldeia, ou se vinha de alguma cooperativa. Responde-me que é da aldeia e que ali so servem os vinhos da gente local. Muito bem!

Provo o vinho, muito bom, sim senhor, belo vinho, bem acima dos vinhos correntes engarrafados, bem mais saboroso. Continuamos a conversa, faço perguntas a cerca das vinhas locais, dos encepamentos, das idades das vinhas, dos solos, do clima, etc... Aos poucos entram tambem outras pessoas na conversa, o pessoal anima, e la fiquei assim umas duas horas a conversa com pessoas com idade para serem meus avos.

Chega um momento e pergunto : "então e quais sãos as castas que aqui se dão melhor?"
No inicio respondem-me varias vezes "aqui dão se todas bem, o Tourigo, o Alfrocheiro, o Jaen, o Fernão Pires, o Borrado das Moscas..."
"Ok mas não ha uma que se destaca mais, que se da melhor?"
"Da-se tudo bem, aqui é a zona do Dão por excelência"
Insisto, virando-me para o senhor detras do balcão : "Então e você não tem nenhuma casta que aprecia mais do que as outras?"
Responde-me "O Jaen, aqui é tudo bom mas o Jaen é que é"
"Porque razão o Jaen?"
"Aquele aroma é imbativel"
De repente, toda a sala se poem a dizer "pois é o Jaen é que é", "e mais te digo, se não juntares Jaen ao Tourigo, o vinho ja não sai tão bom", "pois é o Tourigo sozinho não vale nada"...

Depois de mais umas conversas, la volto eu para casa, com a convicção de cada vez melhor conhecer a região e as suas gentes, mas ao mesmo tempo com a consciência de que algo de grave se esta a passar por aqui. Daqui a dez/vinte anos, se dar a mesma volta, voltarei a encontrar algume por estas bandas?

sábado, 9 de março de 2013

Poda 2013

Como diria o Pingus Vinicus, as vezes mais valem as imagem do que muitas palavras. 
Aqui ficam algumas fotos da poda 2013 da vinha que salvei, sem grandes textos a acompanhar.

Antes de se iniciar a poda, existe na vinha uma sensação de desordem, um lado selvagem.


Depois intervem o Homem e fica tudo mais ordenado, menos inquietante.



A equipa deste ano estava bem composta, com gente competente, gente da terra e disposta a ajudar a fazer um trabalho como deve ser.


Como não podia deixar de ser quando se quer anticipar e prevenir eventuais males, as vides foram logo apanhadas e queimadas.


A vinha ficou assim a espera da proxima intervenção humana, que consistera em trabalhar o solo.


Intervenção que a hora em que estou a escrever este post, ja começou.

terça-feira, 5 de março de 2013

A semana maratona

Estou de regresso a Paris depois de uma semana intensa na santa terra.


Foi uma semana que passou muito rapido e que me deixou exausto, pois foi uma maratona, sempre a correr contra o tempo.
Montes de assuntos para tratar relacionados com o meu projecto vitivinicola, a varios niveis.
Tinha preparado uma lista de mais de vinte items a resolver... 

Sabia que, como sempre, não iria conseguir fazer tudo. Mesmo assim consegui fazer mais do que pensava. 

Para tal tive de delegar parte do trabalho. Por exemplo um dos temas a tratar era o da poda da vinha que salvei. 

Tive la 7 pessoas a podar e a empar durante dois dias. Pessoalmente no primeiro dia so la passei meia hora e no segundo so la estive a tarde. Não é que não goste de podar, pelo contrario adoro isso. Mas se queria tratar tudo o que tinha para tratar nesta semana, tinha mesmo de ser assim este ano...

Acabamos tambem de empar a vinha centenaria.
A proposito, tinha-vos contado num post anterior que encontramos essa vinha mal tratada nas podas anteriores, cêpas cansadas e varas muito finas. Por isso, durante esta semana tambem tive de organizar a fertilização da terra, pois as videiras estavam esfomeadas. Para tal tive de andar a procura de alguem que pudesse abrir a terra com uma cavalo.


Depois de encontrar a pessoa certa e de combinar tudo fui a procura do estrume organico, organizar o seu transporte e avisar o pessoal. As diferentes tarefas foram assim planificadas e tudo decorreu na boa disposição.


A vinha pode assim alimentar-se, a ver se ganha outra vitalidade nesta e nas proximas colheitas. Alem do estrume a pouca carga deixada devera ajudar.

Um dos varios outros temas de que tratei nestes dias foi a prepração do futuro, em particular a pesquiza de mais "crus" do Dão. O minimo que posso dizer é que a pesca foi boa. 


Comprometi-me a tratar de mais uma vinha e tenhoa mais umas a espera de experiências.
Estive a contar ao todo tenho 14 vinhas identificadas.


 Embora o Dão mereça que o faça, falta agora é tempo e dinheiro para transformar isto em garrafas nas vossas mesas.

Nos proximos posts falarei um pouco mais em pormenor destes diferentes temas.